terça-feira, 27 de setembro de 2011

A Análise do desenho Infantil

“O desenho fala do sujeito, da sua subjetividade, da sua posição frente ao mundo”


Trabalhar com o desenho  é como trabalhar em um sonho. Nos dois temos :

1. O sujeito  “Livre” para dizer ou fazer o que quiser, o que o “condena” a revelar o seu desejo. O sonho realiza o desejo a fim de que sonha não acorde. O desenho realiza o desejo de quem o desenha, afim de que viva e não morra.
2. No desenho o desenhista não está preso ao tempo atual. Há liberdade de tempo, pois se desenha o passado, o presente e o futuro. Há plasticidade em lidar-se com o que se desenha.
3. Os desenhos não estão sob o crivo da moral. Mas existem, independente dos valolres da cultura na qual somos inseridos.Não há bons ou maus desenhos. Há desenhos.
4. O desenho permite a que o plamou dialogar sobre sua obra. Elocubrar, pensar sobre, mergulhar. É possível ao sujeito falar sobre sua produção sem censura, pudor, recalque ou medo.
O que Pode ser Projetado em um desenho?

O Significativo  - No desenho, o indivídiduo percebe de forma consciente  e inconsciente sobre si mesmo e sobre as pessoas significativas do seu ambiente.Ele pode perceber a relevância dos atores de seu mundo e como estes causam impacto em sua vivência.
A Atuação. A forma como agimos, atuamos e nos podicionamos diante do mundo são expressas pelo desenho. Somos protagonistas de nossa história. No entanto nos perdemos e não nos reconhecemso. Agimos sem perceber como agimos e quando no dizem, por ser invasiva a forma, recusamos, recalcamos, nos negamos a nós mesmo.

Os Conflitos. Os conflitos e sentimentos inconscientes com que lidamos no nosso cotidiano são reprisados e expressados no desenho. Muitas vezes queremos, mas dizemos não querer. Odiamos, mas dizemos amar. Desejamos, mas dizemos ser indiferentes. O desenho não mente, mas como um escape do inconsciente, contamos a verdade.

O indizível é dito. Coisas que o sujeito não seria capaz de expressar em palavras, mesmo que conscientes. Por medo, recalque.  Aquilo que não conseguimos significar por meio da fala, por meio do desenho se vai.
A realização de desejos.

A Auto-imagem idealizada ou realista de si mesmo. Quem sou eu? Essa pergunta é respondida por meio do real ou do ideal.

A sexualidade.Os conflçitos inerentes aos desejos intimos, obscuros à nossa consciencia são manifestados no desenho. O sexo, a libido, a plulsão. Tudo se escancara por meio de traços, cores e formas.

O “Stress” situacional.  O que vivemos no momento do desenho é plasmado. Denuncia um sofrimento, uma angústia, um desespero, uma alegria, uma excitação.

O que observar quando a criança desenha? Observar qual é a sua postura frente a essa atividade!

Ele se entrega confiante e confortavelmente a tarefa? Expressa dúvidas sobre sua habilidade e, nesse caso, expressa essas dúvidas direta ou indiretamente, verbalmente, ou através de atividade motora? Realiza movimentos, ou exibe expressões verbais que revelam insegurança, ansiedade, autocrítica etc.

A forma como ela se comporta diante a proposta será uma forma "in vitro" de verificar como ela lida com as propostas da vida. Como disse Freud, “O pensamento é a ação ensaiada”. Quando a criança pensa sobre o mundo, ela ensaia viver. A mão ´pe dupla, pois enquanto a criança se expressa pelo desenho, também pelo desenho pode ser tratada. 

Mas há limites a este ato!

A análise do desenho não deve ser vista isoladamente, e sim em conjunto com outras técnicas. Entender este método como uma receita de bolo pode  no conduzir a uma interpretação equivocada.

A análise de quem desenha deve ser feita por meio de outros desenhos, da história do sujeito e principalmente do que o sujeito fala acerca do mesmo. A fala de si é a bússula.

Interpretações são hipóteses e não certezas e não devem se basear em dados isolados ou no imaginário do profissional que o analisa. da mesma forma que a criança projeta ao desenhar, o analista projetará. E isso poderá comprometer a imparcialidade da análise ( se é que ela existe).O profissional deve ter o cuidado de não projetar no desenho analisado seus conteúdos.

O desenho deve ser analisado dentro de um contexto cultural e refere-se a um dado momento. Não há desenho da vida, mas do momento.

É necessário evitar generalizações, pois cada produção é única. Não somos seres padronizados e rotulados, mas únicos.

O Que se estuda em um desenho?

Fases do desenvolvimento - O desenho apresenta a fase de desenvolvimento do desenhista. Descobrimos o seu Cognitivo, psicomotor e sócio-afetivo expressos no ato de desenhar.

No desenho pode-se ver  na criança sua:

a) Percepção visual
b) Oralidade
c) Expressão
d) Reprodução
e) Criatividade
f) Traços da Subjetividade
g) Psicopatologia

Segundo Freud a projeção consiste em uma operação pela qual o sujeito expulsa de si e localiza no outro (pessoa ou coisa) qualidades, sentimentos, desejos e mesmo objetos, que ele desdenha ou recusa em si.
Esse mesmo processo é o que rege os sonhos, o animismo, o pensamento mágico, bem como a produção artística, através do mecanismo de deslocamento.  (LAPLANCHE, p. 478)

----------------------------------

O adolescente ao ser convidado a expressar-se sobre sua vida familiar, desenhou uma casa sem porta ou janela. Usou a cor azul. Desenho no quadrante esquerdo-inferior. Reforçou a frente da casa.



 Um mês após começar a se escutado por uma equipe psicossocial  "plasmou" outro tipo de "foto" de sua realidade familiar. Usou o vermelho, construiu uma casa de dois andares  e colocou janelas. O telhado foi trabalhado. Sua vida familiar mudou!


 O desenho serviu para que a criança mostrasse onde o seu sofrimento estava localizado. Sua vida familiar não lhe permitia vivenciar experiências que desejava. Não havia motivação. Só tristeza e enclausuramento. O atendimento permitiu que falasse sobre seu sofrimento e proporcionou a possibilidade da casa voltar a ter a energia de que precisava. Sentia agora espaço para se permitir ver e ser visto!

Orlando Marçal Júnior em 27 de setembro de 2011.