segunda-feira, 22 de agosto de 2011

O que é desenhar

O que conhecemos do humano, ainda em sua pré-história, contém impressões de um ser que marca seu percurso por meio de uma inscrição. Antes do humano conseguir  significar rabiscos com o que originaria a escrita, inscreveu em pedras e cavernas expressões, impressões, cronicas...desenhou.


Mas o que é o desenho?

Desenhar é expressar! Expor-se! Projetar. Todo e qualquer ato externo do humano é um projetar-se, um "por para fora".




Mas para expressar, o humano precisa se introjetado.

Em sua formação, o homem inicia sua saga com um introjetar sem fim. Vazio, desestruturado e em formação, o humano precisa rechear-se daquilo que ainda não tem. Suas emoções, história, experiências, alimento de sua alma, paralelamente ao fato de alimentar seu corpo. O humano não nasce humano, mas introjeta sua humanidade a partir do que lhe é disponibilizado.


Para a psicanálise, este momento é chamado de FASE ORAL: Um momento do humano em que o ato de alimentar-se está vinculado à pulsão de sugar, trazer para dentro. Não há desenho! Apenas um desejo que  se realiza pelo "por para dentro".




Aos 18 meses o bebê começa a se expressar por meio do objeto. Sua simbiose com o seio, com a mãe, passa por um novo momento: Expressar-se! O bebê toma o lápis na mão e o risca em algo. Os movimentos são espasmos de músculos ansiosos por aprender, que encantam aquele que ainda não detém controle do que faz...mas aprende que pode fazer algo fora de si. 


 

A criança está se preparando para expressar-se, controlar o mundo que a cerca.  Uma nova fase se inicia. Dos 18 aos 36 meses ela descobrirá que o mundo que a cerca poder modificado, impactado, influenciado, prejudicado, afetado e melhorado por sua ATUAÇÃO!  A criança descobre que pode se fazer compreendida, ouvida! Nesse momento, descobre o lápis e a massinha. Surge a ARTE. Surge a Expressão, Surge a projeção de si no outro! RABISCOS.  Caminham do desordenado ao que é ordenado. Do involuntário ao proposital. Um história de rabiscos!


   

"O desenho é uma das manifestações semióticas, isto é, uma das formas  através das quais a função de  atribuição  da significação se expressa e se constrói. Desenvolve-se concomitantemente às outras manifestações, entre as quais o brinquedo e a linguagem verbal (PIAGET, 1973).  

O desenho, manifestação semiótica  que surge no período simbólico, evolui em conjunto com o desenvolvimento da cognição. Compartilha mais intimamente, por um lado, as fases da evolução da percepção e da imagem mental, subordinando-se às leis da conceituação e da percepção. Por outro lado, compartilha a plasticidade do brincar, constituindo-se em meio de expressão particular, isto é, “...um sistema de significantes construído por ela e dóceis às suas vontades” (PIAGET, 1973, p. 52).  

O desenho é precedido pela garatuja,  fase inicial do grafismo. Semelhantemente ao brincar, se caracteriza inicialmente pelo exercício da ação.  O desenho passa a ser conceituado como tal a partir do reconhecimento pela criança de um objeto no traçado que realizou. Nessa fase inicial, predomina no desenho a assimilação, isto é o objeto é modificado em função da significação que lhe é atribuída, de forma semelhante ao que ocorre com o brinquedo simbólico. Na continuidade do processo de desenvolvimento, o movimento de  acomodação vai prevalecendo, ou seja, vai havendo cada vez mais aproximação  ao real e preocupação com a semelhança ao objeto representado, direção que  pode ser vista também no jogo de regras (PIAGET, 1971; 1973).  

O desenho é a expressão do humano acerca de seu mundo, sua percepção. Ele revela a maturação interior e o contato exterior exercido de forma ambivalente entre o subjetivo e o objetivo.