Teóricos como Georges-Henri Luquet entendem o desenho como uma busca da realidade. A perpectiva pela qual Luquet percebe o desenho não faz justiça ao conteúdo projetivo e psicodinâmico nele contido. Apesar de primoroso e inteligente, Luquet objetiva o desenho como um processo em que o indivíduo constrói o real em sua mente. Vejamos como ele fala sobre o desenho:
“Todo desenho é a tradução gráfica da imagem visual que forneça o motivo apresentado e, acreditamos, de uma imagem visual mais ou menos nítida realmente presente no espírito do desenhista no momento que ele desenha, o que nós denominamos modelo interno. Qualquer que seja o ponto de vista subjetivo, do ponto de vista objetivo o desenho é incontestavelmente a tradução gráfica dos caracteres visuais do objeto representado; isto é, tomando emprestado dos estudiosos da lógica o termo “compreensão” pelo qual eles designam o conjunto de caracteres de um objeto, o desenho de um motivo pode ser definido como a tradução gráfica da compreensão visual desse motivo. (...) Nós acreditamos que a preocupação da criança frente a cada um de seus desenhos é de o fazer exprimir de um modo bem exato, bem completo, pode-se dizer o mais literal possível, a compreensão visual do objeto que ele representa. Nenhum nome nos parece exprimir melhor essa característica que realismo, e nós diremos que o desenho infantil é essencialmente e voluntariamente realista.” (Luquet, 1913, p.145)"
No entanto, nossa busca pelo desenho será sob a ótica de Marthe Berson onde o desenho que se busca é aquele que representa, sem vínculo com a comunicação. Na psicanálise a busca do analista não é aquilo que se vê ou se pretende, mas aquilo que por necessidade do inconsciente se mostra. Nessa perspectiva o desenho, apesar de parecer com algo, podendo representar aquilo que não se vê, mas do qual se fala. Para isso, a forma como Berson vê o paralelismo e o continuísmo das fases do desenho tem relevância na análise. Dessa forma, vejamos como evolui na criança e marca a projeção do homem:
O Estágio dos Rabiscos
O desenho nasce na fase em que a criança se percebe como ser que pode produzir, extrojetar - a fase anal. Isso ocorre a partir dos 18 meses de vida. Nesse estágio, o traçado é mais ou menos arredondado, conexo ou alongado e o lápis não sai da
folha formando turbilhões. A
criança desenha círculos.
Aos dezoito meses, mais ou menos, apresenta-se o Estágio Vegetativo Motor, o qual consiste na produção de riscos com o formato quase “arredondado, convexo ou alongado” (MÈREDIEU, 2006, p.25), sem tirar o lápis do papel.
A forma não traz significado e a busca deve ser na tonicidade do traço. Partindo do pressuposto de que o papel é o que é dado à criança, por meio de seus rabiscos pode se perceber a força que exprime em sua vida.
Sobre essa fase, Méredieu chama atenção para a importância do período marcado pela presença dos rabiscos nas produções das crianças. Para ela, esses representam uma etapa fundamental da maturação sensório-motora do indivíduo.
Estágio dos desenhos representativo:
Estágio dos desenhos comunicativos
- desenha animais
- Desenha pessoas
-Desenha sua vida.
Dessa forma, o desenho atinge sua fase final. Aos três anos a criança agrega uma nova característica a seus desenhos: eles tentam corresponder ao mundo que os rodeia.
E importante frisar que na composição das etapas do desenho, elas evoluem não superposição, substituindo a anterior, mas por agregação, isto é, no momento em que a criança desenha o real, este real representa algo, que pela fala pode ser identificado.
A composição do desenho é a composição da fala inconsciente. Nele, o material psicodinâmico se plasma, se adere. Ao decifrar o desenho, decifra-se, como em um sonho, o desenhista.
*Os desenhos foram colhidos por alunos em trabalhos no curso "Análise e Interpretação do desenho infantil" .
Obrigada professor pelo resumo.
ResponderExcluirGostei, pbobriga
ResponderExcluirGostei, obrigado.
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